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Nau Catrineta - A Volta do Mundo!

Lá vem a Nau Catrineta,

que tem muito que contar!



A Nau Catrineta é um poema anónimo romanceado, ligada à tradição oral e comunicativa que, segundo Diogo Brites, provavelmente foi inspirado na tumultuada viagem da nau Santo António, que transportou Jorge de Albuquerque Coelho desde o porto de Olinda, no Brasil, até o porto de Lisboa, em 1565.


O poema narra as desventuras dos tripulantes durante a longa travessia marítima - os mantimentos que esgotaram, a presença de tentação diabólica e afinal, a intervenção divina, que leva esse navio a seu destino. O poema foi recolhido por Almeida Garrett e incluído no Romanceiro.


Inaugurada a 17 de Julho de 1943, a Gare Marítima de Alcântara de Lisboa, foi projectada pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) e constitui, com a Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, de 1948, também da sua autoria, um dos mais importantes projetos modernistas da arquitetura portuguesa dos anos 40.


Os frescos da gare (8 painéis - dois trípticos e duas composições isoladas) são da autoria de Almada Negreiros (artista português multifacetado).


Um dos trípticos conta a lenda da Nau Catrineta associada aos Descobrimentos dos portugueses.



Lá vem a Nau Catrineta,

que tem muito que contar!

Ouvide, agora, senhores,

Uma história de pasmar."


Passava mais de ano e dia,

que iam na volta do mar.

Já não tinham que comer,

nem tão pouco que manjar.


Já mataram o seu galo,

que tinham para cantar.

Já mataram o seu cão,

que tinham para ladrar."


"Já não tinham que comer,

nem tão pouco que manjar.

Deitaram sola de molho,

para o outro dia jantar.

Mas a sola era tão rija,

que a não puderam tragar."


"Deitaram sortes ao fundo,

qual se havia de matar.

Logo a sorte foi cair

no capitão general"


- "Sobe, sobe, marujinho,

àquele mastro real,

vê se vês terras de Espanha,

ou praias de Portugal."


- "Não vejo terras de Espanha,

nem praias de Portugal.

Vejo sete espadas nuas,

que estão para te matar."


- "Acima, acima, gajeiro,

acima ao tope real!

Olha se vês minhas terras,

ou reinos de Portugal."


- "Alvíssaras, senhor alvissaras,

meu capitão general!

Que eu já vejo tuas terras,

e reinos de Portugal.

Se não nos faltar o vento,

a terra iremos jantar.


Lá vejo muitas ribeiras,

lavadeiras a lavar;

vejo muito forno aceso,

padeiras a padejar,

e vejo muitos açougues,

carniceiros a matar.


Também vejo três meninas,

debaixo de um laranjal.

Uma sentada a coser,

outra na roca a fiar,

A mais formosa de todas,

está no meio a chorar."


- "Todas três são minhas filhas,

Oh! quem mas dera abraçar!

A mais formosa de todas

Contigo a hei-de casar"


- "A vossa filha não quero,

Que vos custou a criar.

Que eu tenho mulher em França,

filhinhos de sustentar.

Quero a Nau Catrineta,

para nela navegar."


- "A Nau Catrineta, amigo,

eu não te posso dar;

assim que chegar a terra,

logo ela vai a queimar.

- "Dou-te o meu cavalo branco,

Que nunca houve outro igual."


- "Guardai o vosso cavalo,

Que vos custou a ensinar."

- "Dar-te-ei tanto dinheiro

Que o não possas contar"


- "Não quero o vosso dinheiro

Pois vos custou a ganhar.

Quero a Nau Catrineta,

para nela navegar.

Que assim como escapou desta,

doutra ainda há-de escapar"


Lá vai a Nau Catrineta,

leva muito que contar.

Estava a noite a cair,

e ela em terra a varar.



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