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Carolina e "As Matriarcas"

Atualizado: 9 de mar. de 2022

A Portuguesa Que Ouviu as Histórias das “Matriarcas” de Bicicleta Pelo País Fora.


Carolina Mesquita pegou na bicicleta e, começando no Minho, foi parando em aldeias rurais e conversando com as “matriarcas” das várias localidades. O resultado é um feed de Instagram que emociona.


Quando Carolina Mesquita, natural de Lisboa, 28 anos, decidiu voltar de Londres (onde viveu quatro anos) em agosto passado, no pico do verão português, só teve tempo de cumprimentar a família e partir à aventura que foi a primeira jornada do projeto As Matriarcas.


Gestora de projetos de profissão e especializada em empresas de tecnologia, Carolina sempre adorou conhecer histórias de pessoas e, nas suas próprias palavras, "descobrir as coisas sozinha" ? e foi isso que a moveu a ouvir as mulheres das pequenas aldeias e vilas da região Norte de Portugal.


Se sabia que queria ir de bicicleta? Nem tinha pensado nisso: "A parte da logística foi zero planeada", diz-nos, e ri-se. Tinha imaginado fazer Portugal de Norte a Sul de bicicleta, mas nos primeiros dias percebeu que era impossível. Fez parte do percurso desta maneira, a outra de carro.


O projeto As Matriarcas materializou-se, assim, em imagens (que publicou no Instagram ao longo de três meses) acompanhadas de excertos de histórias, resultado da jornada levada a cabo por Carolina de bicicleta, para conhecer cerca de 20 a 30 mulheres guerreiras.


Isto porque muitas delas trabalharam uma vida inteira no campo e eram (são) pilares das famílias, nas décadas de 50 e 60, uma altura de pobreza mas de união. Algumas delas também viveram a vaga de emigração dos anos 60 (ou porque foram e voltaram, ou porque viram familiares partir para nunca mais voltar). "Sempre tive muita curiosidade em conhecer o que seriam as vidas de outras matriarcas porque eu sempre tive uma família em que as mulheres eram quase as "gestoras de operações", conta. "E faziam funcionar tudo mesmo que por vezes não se prestasse tanta atenção [a esse facto]. Eram a ligação entre todos os membros e eu tinha curiosidade para saber se nas outras famílias também seria assim, queria saber o que estas mulheres teriam para contar", explica-nos, sobre a génese da ideia.


Porquê estas mulheres?, perguntamos. "[O meu objetivo] foi diferenciar as mulheres que tinham uma vida, aos olhos da maior parte das pessoas, simples, que são estas matriarcas, ao contrário do que seria uma mulher bem-sucedida que chegou ao topo de uma carreira e veio de uma terra pequena. Não era esse o meu interesse porque eu sabia, à partida, que as histórias seriam muito ricas – quase todas estas mulheres trabalharam no campo e eram o pilar da casa. A partir do momento em que eu começava a tentar desnovelar essa descrição das vidas delas, era tudo de uma riqueza muito grande.


Desde as tradições que existiam entre vizinhas, que se ajudavam muito umas às outras, ao facto de cada uma trabalhar em culturas diferentes (por exemplo, a amêndoa) porque cada região era diferente. As vidas desta geração, que hoje tem 80, são muito diferentes das da geração que hoje tem 50. Essas mulheres [as da geração dos anos 30 e 40] eram as que eu queria conhecer e captar", conta-nos, acerca daquilo que pretendia com esta missão. "E, depois, comecei pelo Norte, porque é onde tenho mais ligações."


Assim partiu Carolina, com todas estas ideias. Começou em Valença, no Minho, e depois de explorar esta zona "fui ao Gerês, a várias terrinhas, e depois entrei para Trás-os-Montes, acabei por descer um pouco até Freixo de Espada à Cinta e voltei por Lamego, o último sítio", recorda. "Eu sou muito de querer fazer tudo por mim e por isso fiquei a pensar muito numa senhora em particular chamada Maria Teresa. Mora em Vinhais, em Trás-os-Montes, não estudou, e começou a fazer aquilo a que se chamam os fumeiros, que se veem muito nas feiras. Esta senhora sabia que Vinhais se ia tornar uma terra desamparada e desertificada, tal como as outras, caso não existisse ali nada que trouxesse riqueza à terra.


Começou por fazer em casa, dava a provar aos familiares e amigos, e depois as pessoas começaram a imitá-la. Quando se reformou quis ajudar outras pessoas a fazer bem, quis ensinar profissionalmente a fazer as receitas e a executar os métodos de produção. Pediu ao presidente da Câmara se podia dar aulas, disse-lhe que não porque não tinha feito sequer a 4.ª classe, então foi tirar um curso de formação aos 72 anos. Para poder ensinar a concorrência a fazer bem feito!", conta Carolina sobre uma das mulheres mais empreendedoras com quem se cruzou.


"Depois ainda fui ver uma estufa de abóboras de cinco quilos que a senhora tinha feito sozinha, até tinha um certificado de produtos biológicos. Começou o negócio das compotas de castanha e abóbora aos 83 anos. Ela era incrível, queria deixar algo à terra que a viu nascer, mas também ensinar."






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