Eu não tenho vistas largas
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
Lições de Filosofia.
P'ra a mentira ser segura
e atingir profundidade,
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a razão, mesmo vencida
não deixa de ser Razão.
Embora os meus olhos sejam
os mais pequenos do Mundo,
o que importa é que eles vejam
o que os homens são no fundo.
Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
Fui polícia, fui soldado,
estive fora da nação;
vendo jogo, guardo gado,
só me falta ser ladrão.
Co'o mundo pouco te importas
porque julgas ver direito.
Como há-de ver coisas tortas
quem só vê o seu proveito?
À guerra não ligues meia,
porque alguns grandes da terra,
vendo a guerra em terra alheia,
não querem que acabe a guerra.
Não é só na grande terra
que os poetas cantam bem:
os rouxinóis são da serra
e cantam como ninguém.
Ser artista é ser alguém!
Que bonito é ser artista...
Ver as coisas mais além
do que alcança a nossa vista!
António Aleixo - Poeta - 1899-1949

António Fernandes Aleixo (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949) foi um dos poetas populares algarvios de maior relevo, famoso pela sua ironia e pela crítica social sempre presente em seus versos. Também é recordado por ter sido simples, humilde e semi-analfabeto, e ainda assim ter deixado como legado uma obra poética singular no panorama literário português da primeira metade do século XX.
Corrente do cancioneiro popular português
O termo "cancioneiro" é, em geral, atribuído à reunião de canções populares; cada uma das colecções da antiga poesia lírica portuguesa e galega, com início entre os séculos XI e XIII, reunidas sob a alçada de reis e príncipes e constituídas por composições de vários autores, de entre homens das diversas classes sociais, é o "cancioneiro" em língua portuguesa mais conhecido. No Algarve, na primeira metade do século XX, teria irrompido uma poderosa corrente de um novo cancioneiro popular português, a qual recebeu o nome do poeta semi-analfabeto que lhe teria "aberto as comportas": António Aleixo.
Quem apontou essa corrente foram o artista plástico Tóssan , e o professor de liceu Joaquim Magalhães, este último o professor do Liceu de Loulé e "descobridor" de António Aleixo, ao qual se deve o registro e publicação da obra do poeta popular algarvio e sua inclusão no sistema literário português.
Há alguns anos também passou a existir uma «Fundação António Aleixo» com sede em Loulé e que já usufrui do Estatuto de Utilidade Pública, o que lhe permite atribuir bolsas de estudo aos mais carenciados, facto que deve ser encarado como bastante positivo.
O reconhecimento a este poeta vai mais longe e até a CPLP (Comunidade Portuguesa de Língua Portuguesa), os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), bem como os Países de língua oficial portuguesa vêm o mérito do poeta, imortalizando o seu nome e obra constantemente.
Confraria dos Gastrónomos do Algarve

Fotos do Mundo Roselha Grande
Foto em Idanha-a-Velha, freguesia do concelho de Idanha-a-Nova, Beira Baixa, julho 2012
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