Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Nasceu a 06 Novembro 1919 (Porto)
Morreu em 02 Julho 2004 (Lisboa)

Lagos e as praias-poema de Sophia
Sophia de Mello Breyner descobriu Lagos nos anos 60.
A luz, as casas brancas, as praias, a brisa, as grutas amarelas, os peixes azuis foram uma paixão que durou décadas e ficou incrustada em poemas.
Em 1944, quando escreveu o famoso poema "no fundo do mar/ há brancos pavores/ onde as plantas são animais/ e os animais são flores (…)" Sophia de Mello Breyner Andresen, estava longe de imaginar que um dia iria reencontrar esse mesmo fundo do mar, nas águas tranquilas e transparentes da cidade de Lagos.
Na verdade só a descobriu no início da década de 60, mas a paixão pela costa onde as rochas de calcário amarelo, as grutas escavadas pela água e o vento se erguem como sonhos surrealistas entre as coisas visíveis havia de lhe durar o resto da vida.
In Revista Sábado, Joana E. Marques 9/06/21
Fotos do Mundo Roselha Grande
Costa de Lagos , sábado 21/05/22
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